Notícias da ABO-MG

Odontogeriatria na equipe interdisciplinar de atenção ao idoso: o impacto da reabilitação oral na qualidade de vida dos pacientes desdentados

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Dulcinéa Mattar*

Os idosos têm sido foco de atenção em estudos sobre o impacto da saúde bucal na qualidade de vida, uma vez que o impacto cumulativo dos problemas bucais é maior entre eles(1).
Considera-se um idoso bem sucedido aquele que mantém por toda a sua vida uma dentição natural, saudável e funcional. Envolve aspectos sociais, psicológicos e biológicos (mantém sua estabilidade psicológica, melhora a auto-estima, relacionando-se de forma mais agradável com os outros, e, biologicamente, usufrui os benefícios que uma dentição sadia concede como estética, conforto, habilidade para mastigar, falar, sentir o sabor). São aspectos que contribuem significativamente na nutrição, na fonética, nas relações sociais, auto-estima e conseqüentemente na melhora da saúde geral e qualidade de vida. A perda dos dentes naturais reduz substancialmente a qualidade de vida(1,2-8).
No Brasil a perda dentária precoce é grave. A necessidade de algum tipo de prótese começa a surgir a partir da faixa etária de 15 a 19 anos de idade. Os resultados da pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde apontaram um percentual de 37,8% de indivíduos com mais de 50 anos de idade sem nenhum dente natural presente na boca, no total 30 milhões de pessoas. O edentulismo continua sendo um grave problema em nosso País especialmente entre os idosos(9). O edentulismo é decorrente da cárie dentária, a principal responsável pela perda dos dentes durante o ciclo da vida ou da doença periodontal, ocorrendo principalmente em adultos e idosos(10).
Considerando-se que a expectativa de vida aumentou consideravelmente nas últimas décadas, a meta hoje não é acrescentar mais anos a vida, e sim mais qualidade de vida aos anos vividos(11). Neste contexto, o fato de 37,8% dos idosos serem edêntulos é inaceitável(12).
O principal objetivo da Odontologia Reabilitadora é sem duvida a restauração de uma arcada dental, buscando a estética e a estabilidade funcional(13).
Estamos longe de atingir a meta da OMS que seria: para o ano de 2000, 50% da população idosa entre 65 a 74 anos com pelo menos vinte dentes em condições funcionais(14).
O quadro bucal precário encontrado atualmente no idoso é decorrente não só do processo de envelhecimento por si, mas pode ser considerada também uma experiência socialmente construída durante toda a vida(11).
Para que a condição bucal dos idosos apresente melhoras, medidas preventivas contínuas devem ser tomadas basicamente durante toda a vida, assim como ações educativas e medidas curativas possibilitando um acesso maior também aos tratamentos restauradores(15).
De acordo com as previsões demográficas, ocorrerá um grande aumento da população de idosos em todo o mundo nas próximas décadas. Esta mudança no perfil etário da população aponta a necessidade de pesquisas buscando conhecer melhor o processo de envelhecimento(11).
Os idosos constituem um grupo especial e, no futuro, terão condições físicas, psíquicas e sociais bastante particulares. Na Odontologia, há necessidade de se buscar melhores recursos de reabilitação da arcada dentária edêntula(11,16), pois esta situação traz prejuízos consideráveis à qualidade de vida(12). Entre outras posturas o paciente geriátrico não mais aceita o tratamento odontológico baseado em exodontias e próteses totais removíveis e passa a ter aspirações estéticas que antes não possuíam, demandando conhecimentos mais apurados por parte dos profissionais de saúde(17).

Problemas associados

Como dito anteriormente, os objetivos da reabilitação oral com próteses totais são: trazer e manter um ambiente de saúde funcional e buscar tanto quanto possível, as reconstruções anatomicamente e psicologicamente perfeitas(18).
As pessoas desdentadas procuram o cirurgião dentista para confecção de próteses totais pela necessidade de melhorarem aspectos como estética, interação social, eficiência mastigatória e qualidade na fala. O fato de ficarem um tempo prolongado sem próteses ou com próteses inadequadas acarreta problemas estéticos, funcionais, nutricionais e gastro-intestinais, além de remodelação da articulação têmporo-mandibular(19).
Historicamente, o principal fator etiológico das disfunções da ATM é a má oclusão sendo que os portadores de próteses totais constituem o maior grupo de risco desta patologia. A má oclusão em próteses totais gera resposta imediata afetando a qualidade de vida pelas dores orofaciais, dificuldades de alimentação, fonação e deglutição e juntamente com o estresse afeta a sua estrutura social(20).
A diminuição do fluxo salivar levando a sensação de boca seca é comum em pacientes idosos. Como conseqüência, temos lubrificação diminuída, dificuldades de articular as palavras, candidíase, dores, problemas de mastigação, de deglutição e dificuldades de preparar o bolo alimentar, predispõe a irritação mecânica dos tecidos, resultando lesões traumáticas e sensação de queimação além da dificuldade de adaptação e retenção das próteses totais convencionais(18). Na mucosa oral, os problemas mais frequentemente encontrados são estomatites, hiperplasias teciduais e ulceras traumáticas com o uso de próteses inadequadas(6).
O uso de próteses totais conduz para alterações do paladar e olfato. Segundo Demers et al, estudos com pacientes edêntulos parciais ou totais mostraram que um terço dos usuários de próteses totais sofreram uma perda permanente no paladar. A redução severa do paladar associada com a idade e com o uso de próteses totais, pode ter um impacto na escolha da comida conduzindo a má nutrição(6).

Habilidade mastigatória

Com a perda dos dentes a eficácia mastigatória diminui nas seguintes proporções: 33% com a perda de um dos primeiros molares, 44% com a perda de dois molares e 66% se a perda é de três molares. Em resumo, quando se usa próteses totais, se deve realizar um esforço quatro vezes maior que o jovem para formar adequadamente o bolo alimentar(21).
Em comparação com a dentição natural, os usuários de próteses totais de todos os grupos etários, mostram uma redução da eficiência mastigatória (12% do desempenho normal). Quando se considera somente a habilidade mastigatória, esta aumenta com a qualidade das próteses(6).
A falta dos dentes tem sido considerada um dos fatores responsáveis por uma dieta inadequada(6) e o efeito da condição bucal sobre o estado nutricional é muito importante, principalmente em idosos. A perda dos dentes interfere no hábito de alimentar do indivíduo, na escolha dos alimentos e leva a um decréscimo na ingestão dos mesmos devido a alterações mastigatórias, no paladar e na deglutição. Os pacientes edêntulos portadores de próteses totais, também pelas dificuldades de retenção e adaptação das mesmas, evitam alimentos que requerem mais esforço da mastigação, dando preferência para alimentos macios e pobres em nutrientes. Acabam não substituindo os mesmos por outros de igual valor nutricional, conduzindo a uma dieta pobre. As consequências á sua saúde geral são grandes, afetando a qualidade de vida, evidenciando a necessidade de uma reabilitação adequada(22).
A alimentação desempenha um papel importante na prevenção de doenças. Numerosos estudos têm demonstrado uma associação entre edentulismo e pobre qualidade da dieta, mostrando que os pacientes edêntulos tem um alto risco de desenvolver doenças sistêmicas, especialmente as crônicas, como câncer do intestino, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares(21).
É de fundamental importância uma orientação nutricional após reabilitação oral para proporcionar alterações necessárias de hábitos alimentares(23).

Alterações miofuncionais

As perdas dentárias e o uso de próteses inadequadas implicam uma série de mudanças morfológicas e neuromusculares causando prejuízos no equilíbrio do sistema estomatognático o que dificulta a realização das funções de deglutição, mastigação, fala e a própria adaptação das próteses. Quanto á produção da fala, a ausência dos dentes gera uma dificuldade na articulação de certos sons. Há melhora significante na produção da fala com a colocação das próteses. Há necessidade de terapia fonoaudiológica, na área de motricidade oral para favorecer a normalização das funções, principalmente a mastigação e deglutição, dando maior estabilidade às próteses(7).
A perda dos dentes causa remodelação e reabsorção do rebordo alveolar e eventualmente conduz para a atrofia das regiões edêntulas sendo uma questão de grande preocupação. A atrofia do osso alveolar impede um bom resultado da reabilitação tradicional com as próteses removíveis. Alem disto, o paciente nem sempre é informado das consequências potenciais da perda óssea com o tempo, podendo influenciar muitos fatores como: atividade sexual do paciente, hormônios, metabolismo e falta de adaptação das próteses(24).
Dentes satisfatórios (naturais ou artificiais) constituem importante fator no sentimento de aceitação social, contribuindo para o bem estar e à saúde mental do paciente(6). A personalidade, desejos, expectativas, motivações, habilidade para aceitar as mudanças e auto-estima são fatores importantes no curso do tratamento e afetam seu sucesso(5). A auto-estima é primordial para uma vida útil e feliz e a manutenção do sorriso é essencial para um melhor relacionamento com o meio em que o indivíduo vive tornando-o mais feliz(25).
A perda dos elementos dentários tem conseqüências em todos os órgãos do corpo como também no convívio social. Infelizmente a aparência física é um fator de exclusão social(8).
As alterações psicológicas surgem através de diversos fatores, sendo a perda dos dentes uma dela; podem levar ao isolamento e causa considerável impacto sobre o psiquismo, alterando a auto-imagem, causando depressão e transtornos depressivos. A condição dental debilitada e ou as próteses mal adaptadas podem aumentar o afastamento social(25).

Considerações finais

A saúde bucal é parte integrante e integrada da Saúde geral, trabalhamos com assistência integral (ações de prevenção, promoção e recuperação), com uma equipe multidisciplinar, enfatizando e incluindo os impactos percebidos dos problemas bucais na qualidade de vida das pessoas(1).
• A qualidade de vida é influenciada pela perda dos dentes, uma vez que trás limitações funcionais que levam aos distúrbios nutricionais, digestivos, dificuldades fonéticas, desconforto, perda de dimensão vertical, patologias da ATM, perda de tônus muscular, reabsorções ósseas e doenças sistêmicas(16,22,23).
• A alimentação é um ato vital e é comprometida pela perda dos dentes, restringindo a dieta, trazendo desnutrição e prejuízos sistêmicos(8).
• O comprometimento com a estética é fundamental afetando a integração e desempenho social, levando as alterações psicológicas pela insatisfação com a aparência e limitações funcionais(6,8). • Existem muitas alternativas para a reabilitação de pacientes desdentados. O apri-moramento de técnicas implantodonticas viabiliza hoje, o uso de prótese total sobre implantes com carga imediata, contribuindo para que a reabilitação oral com as próteses sobre implantes supere a reabilitação com próteses convencionais, por trazer a restauração funcional e estética com maior eficácia(10).
• O sucesso da reabilitação estética do paciente edêntulo não pode estar limitado aos aspectos técnicos de arranjo dos dentes, mas também ao comportamento psicológico do paciente, atitudes, expectativas, desejos, auto-estima, compatibilidade de atitudes dentista-paciente, carinho e cuidado no tratamento(5).
• Para o sucesso de novas próteses, não só o fator estético é importante, mas também a realização das funções de mastigação, deglutição e fala, necessitando uma adequada relação entre aspectos oclusais e neuromusculares(7) buscando também obter pela integração entre todos estes fatores, como produto final a satisfação do paciente(8).
• Na Odontogeriatria é fundamental o trabalho executado com uma equipe multidisciplinar (médico geriatra, fonoaudiólogo, nutricionista,fisioterapeuta, psicólogo, terapeuta ocupacional e outros) para proporcionar os completos bem-estares físico, emocional, mental e social do indivíduo objetivando melhora na qualidade de vida do mesmo(23).

*Cirurgiã-dentista especialista em Odontogeriatria, Gerontologia Social e Saúde Coletiva. Escritora, professora do CIAPE,
Coordenadora do Departamento de Odontogeriatria da UNI/ABO-MG e do Hotel Geriátrico Residencial Harmonia



Referência Bibliográfica

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8. FARJADO,R.S. et al.; Análise das condições funcionais e psicológicas em pacientes edêntulos por-tadores de próteses totais; Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.38, n2, p.83-162, abr./jun.2002.
9. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. Departamento de Atenção Básica. Projeto SB Brasil 2003: condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003. Resultados principais. Brasília: Ministério da Saúde: 2004d.
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19. CUNHA,C.C.; FELICIO,C.M.; BATA-GLION,C.; Condições Miofuncionais orais em usuários de Próteses Totais; Pró-Fono Revista de Atualização Científica;Vol.11(1),1999; 21-26.
20. NETTO, H.C.; Oclusão e disfunção em pacientes desdentados; Tratamento das disfunções craneomandibulares – ATM; 23: 247-266,
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22. KNAPP, A. Nutrition and oral health in the elderly. Dent Clin Noth Am 1989; 33 (1): 109-25
23. COSTA E SILVA, V. C., Avaliação Bucal e nutricional dos pacientes senescentes, [Dissertação de Mestrado] São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2005.
24. MISCH,C.E.; The importance of dental implants; General Dentistry; p.38-45;jan.-febr.,2001.
25. SILVA, E. M. M.et al.; Mudanças fisiológicas e psicológicas na velhice relevantes no tratamento odontológico; Ver. Ciênc. Ext. v.2, n.1,p.62, 200

Fonte: Jornal Correio ABO 276

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